Desconforto nas relações, na maioria das vezes, resulta de chantagens emocionais

Quantas vezes adiamos uma conversa porque sabemos que ela será difícil e desconfortável? Já passamos por isso no trabalho, na família, ou com amigos, não é mesmo? Você sente desconforto ao ter de dizer algo que é importante para você ou para negar algum pedido?
No post de hoje vamos ver que a origem do desconforto, na maioria das vezes, está relacionada a tipos de chantagens emocionais que tivemos que ceder durante nossa criação.
Decidi trazer este tema por compreender a importância de lidar com o desconforto, com consciência, para criar vínculos mais fortes e sinceros em nossos relacionamentos.
Boa leitura!
Reconhecendo nosso padrão de comunicação
Ao nos relacionamos uns com os outros, sempre haverá uma relação de troca. Por exemplo, em uma relação de trabalho, não necessariamente a conversa será somente sobre os temas que envolvem as atividades de trabalho, existe a troca de afinidade, de história de vida e demais interesses em comum, pelo menos é assim que deveríamos reconhecer uma relação em que a comunicação é saudável.
No entanto, existem outras formas de comunicação que foram aprendidas com base em chantagens emocionais (embora nem sempre reconheceremos dessa forma), as quais modelam nossa forma de se relacionar.
Nos relacionamentos entre pais e filhos, quando aparecem ameaças como: “Olha, nem parece que é minha filha, fazendo tal coisa.”, “Nossa, eu não esperava isso de você!”, “Mamãe vai ficar triste, se você fizer isso.”, “Você não tá merecendo esse passeio, por isso não vou pagar.”, “Se você se atrever a colocar essa roupa, não vai receber a mesada deste mês.”, crianças e jovens vão se moldando e, ao chegar na idade adulta, não sabem defender os próprios limites.
Além de não defender os próprios limites, a percepção sobre si mesmos fica limitada e a pessoa não consegue discernir o que pertence a ela e o que pertence ao outro.
Se somos criados desta maneira temos pouca ou nenhuma consciência do que é uma chantagem emocional, do quanto ela está presente nas relações familiares e como levamos este modelo de comportamento como padrão para as demais relações.
Quando a chantagem está presente na nossa comunicação, nos desconectamos uns dos outros e só atendemos às solicitações porque sentimos medo da solidão ou de perder o amor da outra pessoa. É por isso que as conversas difíceis são tão desconfortáveis: elas vão exigir de nós um posicionamento, que é algo não assimilado em criações baseadas em chantagens.

Tipos de chantagistas
Você viu que no tópico anterior destaquei que nem sempre um comportamento chantagista será reconhecido por nós. Isso acontece porque, segundo a autora Susan Forward, o chantagista cria uma espécie de clima que confunde a percepção do chantageado.
Ela nomeia três aspectos que favorecem a construção de tal clima:
medo;
obrigação;
culpa.
Aqui, convido você a rever as frases ouvidas ou ditas nas suas relações parentais, especialmente nas relações como pessoa responsável por filhos adolescentes, por ser essa uma fase de enfrentamentos significativos (pode checar se algumas delas aparecem nos exemplos citados acima). Você nota a presença dos três aspectos?
Faço esse convite porque a relação entre chantagista e chantageado pode não ser algo unilateral. Em um momento podemos ser quem chantageia e em outro sofremos a chantagem. Com isso, podemos observar quatro tipos de chantagistas para ter maior clareza sobre esses comportamentos.
Castigadores
Chantagistas castigadores, ao decidirem que querem que algo aconteça segundo suas vontades, usam a punição como meio de atingirem seus objetivos.
Autopunitivos
Os autopunitivos põem em risco a própria integridade física (deixando de tomar medicamentos, alimentar-se, etc.) e em casos extremos, com tentativas de suicídio.
Sofredores
Ao contrário dos autopunitivos que indicam que começarão a sofrer diante de seus desejos não atendidos, os sofredores buscam transferir a responsabilidade da dor ou sofrimento que estão sentindo para o chantageado.
Tantalizadores
É o tipo de chantagista que toca no desejo do chantageado, prometendo recompensas que sejam de interesse do outro.
Dando a volta por cima!
Seja qual for o tipo de chantagem, essa atitude demonstra falta de aprendizagem de outra forma de atuar, pois, como visto, são modelos assimilados nas relações estabelecidas desde a infância. Qual é a forma de intervir nesses modelos aprendidos?
Em primeiro lugar, reconhecendo que eles estão presentes na nossa forma de nos relacionarmos e isso não faz de nós pessoas más nem boas, são simplesmente atitudes aprendidas e como seres de aprendizagem podemos assimilar novas posturas.
Outro ponto importante é reconhecer nossos desejos e buscar formas de expressá-lo ao outro (sem ameaças), tendo consciência de que a resposta vinda do outro pode ser um “não” e você deve saber como lidar com isso.
Observar quais são seus próprios limites, até porque pode ser você quem vai dizer não para outra pessoa. Saber quais são os próprios limites é uma chave de empoderamento para que esse não, seja dito sem culpa e sem medo.
Essas são algumas formas de intervenção e eu vou trazer mais detalhes no próximo post, em que falarei sobre limites e comunicação não violenta.
Enquanto isso, deixe seus comentários no post. Quero saber se você reconhece os tipos de chantagistas nas suas relações e que outras reflexões este conteúdo trouxe para você. Seguimos em diálogo.
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