Construindo interpretações mais realistas para o próprio desenvolvimento e relacionamentos saudáveis
É comum confundirmos emoções e sentimentos, mas eles não significam a mesma coisa. Durante uma discussão com os filhos, por exemplo, no calor do acontecimento podemos reagir com raiva, inclusive sentindo a própria respiração mudar de ritmo e o coração acelerar.
Ao compartilhar o ocorrido com outro familiar ou no círculo de amigos, começamos a contar detalhes da briga e geralmente usamos palavras ou expressões que dão uma interpretação do que sentimos e de como reagimos.
Com essas descrições iniciais é que podemos afirmar que emoções e sentimentos não são sinônimos e ao longo do post você vai entender como diferenciá-los.
Emoções X Sentimentos
As emoções são essenciais para a sobrevivência humana e para os relacionamentos interpessoais que formamos. Elas são resultados de um processo biológico, dirigido pelo nosso cérebro, e nossa evolução como espécie estaria impossibilitada se não fosse por tal processo. É por meio das emoções que expressamos o que sentimos e que estabelecemos (ou não) empatia com outros seres vivos.
Por outro lado, os sentimentos são criados com a nossa intervenção direta: eles surgem a partir da interpretação (um sentido) que damos referente a uma situação. Sendo a emoção um processo biológico, ela é intrínseca, como diz Miriam Rodrigues, “as emoções primárias vêm de fábrica”. Aí reside a diferença entre emoção e sentimento.
Por isso é tão importante falar sobre as emoções, especialmente com as crianças, para que já nessa fase possamos ensiná-las a reconhecer, nomear e verbalizar seu mundo interno. Desta forma elas aprendem a construir interpretações mais realistas frente ao próprio desenvolvimento, podendo ter relacionamentos saudáveis nas demais fases de suas vidas.
Quais são as emoções primárias?
A seguir, você terá uma breve descrição daquelas que consideramos emoções primárias, também chamadas emoções básicas, bem como a indicação de como lidar com elas.
Raiva
Em seu nível máximo, equivale à fúria. É considerada destrutiva e incita a pessoa a desejar a exclusão de algo ou alguém. Fisicamente, ela se exprime em respiração ofegante, muitas vezes os punhos cerrados e tensão muscular. Uma raiva mais branda é vista como irritação, ironia, revolta, ressentimento, indignação, aborrecimento ou hostilidade.
A raiva transmite uma mensagem de proteção e/ou defesa, pode ter “nascido” devido a uma frustração por não se conseguir realizar algo, inclusive, algo muito bom como querer ir à praia e chover neste dia, encontrar alguém e a pessoa não estar disponível, ir bem em uma prova e ficar com raiva de não conseguir o resultado esperado, só para citar alguns exemplos.
Para lidar com ela, de maneira construtiva, é importante lembrar que só é possível agir ao permitir que os primeiros instantes da raiva passe. Após, concentre-se em respirar e se acalmar.
Medo
Pode ser apenas preocupação, angústia ou apreensão. No maior estágio, chamamos o medo de terror ou pânico. É importante destacar que ele nos permite lutar ou fugir, afinal trata-se do nosso instinto de preservação.
Aprender a lidar com o medo é fundamental. Uma vez que trazemos à consciência em que nível ele está, podemos desenvolver a capacidade de transformá-lo em prudência, bem como saber quando precisamos de ajuda e acompanhamento terapêutico.
Tristeza
Um leve desânimo, se expressar com mágoa, sentir tédio, solidão, nostalgia ou amargura, podem ser confundidos com tristeza. Em seu estágio mais agudo, torna-se depressão severa.
A tristeza alerta sobre a necessidade de acolhimento e ela passa, quando vivenciada de fato, por meio de sua expressão, sendo da forma que for: choro, desabafo, etc. Para isso, ela deve ser reconhecida e aceita. Somente assim podemos refletir sobre a causa do que levou à tristeza, para reavaliar como conduzir as coisas a partir dali, instaurando a si mesma, a esperança.
Alegria
Sentimos alegria quando o corpo está preparado para fazer algo diferente como brincar, festejar, comemorar. Em níveis mais suaves, chamamos a alegria de contentamento, satisfação, bom humor e realização.
Você sabia que até a alegria em excesso pode ser prejudicial? Pois é, por exemplo, quando se apresenta como euforia ou mania, estágios presentes em pessoas com transtorno bipolar. A auto-observação e a escuta ativa aos que nos são próximos são essenciais para saber quando devemos ligar o botão de alerta.
Nojo
Em seu ápice, é repulsa e ojeriza, mas pode ser apenas um incômodo ou um desconforto.
É também um tipo de emoção que nos auxilia na autopreservação e nos afasta daquilo que intuímos que não nos fará bem, sentimos de maneira mais sutil e não racional.
Uma dica de filme para aprender sobre as emoções
O filme DivertidaMente enfoca essas emoções básicas, e faz isso de um jeito muito inteligente, perspicaz e, ao mesmo tempo, simples, de maneira que torna a questão compreensível até mesmo para crianças pequenas.
Em tempo de férias, assisti-lo com os pequenos é uma forma de abordar o assunto e inspirarmos as crianças a perceberem o modo como são focadas as situações diárias, principalmente as consideradas “ruins” ou “desagradáveis” em nossa vida.
O filme mostra a função que todas as emoções têm, inclusive aquelas das quais muitos têm vergonha de assumir e sentir, como a raiva e a tristeza. O enredo, delicada e sutilmente, nos convida a observar o importante papel das emoções primárias: tristeza, raiva, medo, nojo e alegria.
É muito interessante, por exemplo, a abordagem de como as lembranças emocionais são armazenadas no cérebro e acionadas a partir de um gatilho vindo de uma situação presente. A tristeza é abordada de maneira fundamental, trazendo nova visão da importância de reconhecermos e aceitarmos esta emoção em nossas vidas.
Quem nunca tentou alegrar, a qualquer custo, uma pessoa que estava triste? Quantas vezes acreditamos que é preciso disfarçar a tristeza que nem mesmo admitimos sentir? Aprender a nomear e verbalizar as emoções é muito importante porque oferece a chance de vivenciá-la de modo saudável.
Por isso, vale a pena assistir Divertida Mente, para refletir e perceber como todas as emoções precisam coexistir, pois cada uma possui uma importante função em nossas vidas. O filme é uma ótima pedida para crianças de todas as idades, afinal, cada adulto carrega consigo sua criança interior.
Bom filme e boas reflexões!
Outra dica: quando falei sobre “alegria”, mencionei a “escuta ativa”. Neste post que fiz para o Instagram, você vai saber em poucas palavras o que isso quer dizer e como desfrutar dos benefícios! Dá um pulinho lá para ver!
Referências: Rodrigues, Miriam. Educação emocional positiva: saber lidar com as emoções é uma importante lição/Miriam Rodrigues – ed.rev.amp. – Novo Hamburgo: Sinopsys, 2015.
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