Você tem se preparado hoje para ser o pai do futuro?
- Adriana Gardin
- 13 de ago. de 2023
- 5 min de leitura
Como construir uma nova percepção da paternidade para criar uma geração de filhos mais conscientes emocionalmente

Quem nasceu nos anos 60 ou 70, salvo raras exceções, vivenciou ou presenciou relações entre pais e filhos bem delimitadas. O dito “manda quem pode, obedece quem tem juízo” deixava claro o papel que cada membro da família deveria ter. Mas o mundo mudou e toda mudança exige transformação e preparo.
Pensando nisso, trago duas propostas no post de hoje: uma reflexão, desenvolvida ao longo do texto, e uma chamada para a ação, na parte final. As propostas terão como ideia central o fato de que somos a geração que tem a responsabilidade de trazer para as futuras gerações a clareza de que, assim como nos preparamos para assumir uma função profissional, para ser pais, nós precisamos também de preparo. Sim, acabou aquela ideia de que é tudo intuitivo e que não precisa planejar. E o futuro é agora!
Vamos começar?
Paternidade consciente, uma chamada à reflexão
Assim como existe um planejamento para se tornar um engenheiro, um mestre de obras ou um advogado, é preciso se preparar para se tornar um pai. O pai do futuro entende que é necessário um preparo, porque ele precisa se conhecer.
O autoconhecimento é o maior ponto de virada dessa paternidade, já que nos possibilita entender que se muitas vezes sofremos por não renovarmos a interpretação que tivemos da nossa educação passada, não precisamos arrastar isso para frente. Por outro lado, podemos compreender que nossos pais não tiveram tanta clareza de que as emoções importam para o ser humano, o que é bem claro na geração atual.
A geração atual tem mais recursos para desenvolver habilidades socioemocionais, assimilar a escuta, trabalhar a assertividade e outros meios necessários para cultivar relações saudáveis.
Qual a importância das emoções no autoconhecimento?
Como a emoção é algo que se dá de forma quase instantânea, é preciso criar recursos para não reagir impulsivamente a ela. Em lugar disso, por meio da cognição, é possível elaborar a própria percepção das emoções para empreender ações mais conscientes, assim como saber estabelecer limites.
Em outras palavras, em lugar de ser pais reativos, existe a oportunidade de saber que o filho é um outro. Por ser um outro, o pai do futuro entende que precisa ouvi-lo sem julgamento, sem achar que a opinião ou outras formas de expressão desse filho é algo pessoal e contra a sua própria percepção; entendendo apenas que são visões diferentes, nem melhor ou pior, somente, outra.
Quer um exemplo?
Imagine que você, pai, está conversando com o seu chefe, ou com aquele empresário que você vai prestar um serviço para ele. De que forma você conversa? Você olha e diz “nossa, estou conversando com um outro”, você respeita esse outro.
O pai consciente das suas funções, também respeita o filho como sendo um outro, como uma pessoa de valor, que tem uma forma de ver a vida e se interessa inclusive em conhecer e entender essa visão diferenciada, isso é respeitado.
Ao iniciar uma comunicação baseada no respeito, com esse filho, existe um ganho de ambos os lados, mesmo que os dois tenham opiniões divergentes, porque o ponto de vista dos dois será valorizado, abrindo a possibilidade de entrar em um consenso, porém, sem ter isso como o foco.
Contar história é uma forma de contextualizar

O pai consciente conta a sua história, não apenas seus êxitos, e sim em quem precisou se tornar para chegar ao acerto, mostra o quanto se equivocou e errou durante sua caminhada. Ele contextualiza. Ele se coloca inteiro. Ele traz senso de pertencimento quando compartilha seu tempo com a família, cultivando a consciência de que “eu estou aqui, eu pertenço a essa família, eu tenho uma razão para estar aqui”.
Esse pai entende que a sua história é importante, então a divide e conta essa história para contextualizar sua forma de pensar e inclusive rever o que já pode ser contado diferente, devido a própria mudança de percepção. Enquanto conta sua história, também a transforma e se transforma.
Em lugar de dizer “eu sou seu pai e você tem que saber que é assim e acabou!”, diz, “olha, na minha história de vida eu vivi tal e qual coisa e é isso que me leva a pensar dessa forma. Eu entendo que você não pensa assim, porque afinal de contas, você não teve essa história, mas consegue imaginar a minha”? - Com essa troca, naturalmente ensina empatia e escuta ao filho e também aprende que a história que escreve hoje terá um “peso” na história que seu filho um dia contará.
Conhecer a história de vida do pai ajuda os filhos a fortalecerem os vínculos e gerar mais confiança na relação e inclusive estimula o desejo do filho de transpor os desafios da sua própria trajetória, compreendendo que sim, é possível, pois seu pai teve seus obstáculos na vida e os transpôs.
Paternidade consciente, uma chamada à ação
Minha proposta de ação tem como modelo o conceito desenvolvido por John Gottman, pesquisador e professor de psicologia, que considera que um relacionamento começa com o sistema da amizade, que um pai deve desenvolver um mapa do filho e esse mapa deve ser renovado conforme cada fase vivenciada. Afinal, o filho com 1 ano, não é o mesmo com 8, nem com 15, ele vai mudando.
Para desenvolver o mapa do filho, considere as seguintes perguntas:
Qual é o mundo do meu filho agora? Videogame, futebol, ensino médio, faculdade…?
Quais são suas preferências hoje?
Quais são os valores desse meu filho?
Quais são as forças dele?
Que objetivos ele tem de vida?
Quais são seus desafios?
Como eu posso contribuir com ele?
Como eu demonstro estar disponível para ele? Será somente financeiramente?
Qual foi o último pedido do meu filho que eu não atendi e qual foi a razão?
Como têm sido nossas conversas? Falo das minhas dores e de como as venci ou não?
Demonstro minhas fragilidades para o permitir ser transparente a mim também?
Será que o mapa do seu filho reflete quem o seu filho é agora? O pai do Agora, pensa em todos esses fatores e entende que tem que se preparar para ser pai, assim como existe um preparo para ser um engenheiro, um advogado, um mestre de obras. Não é intuitivo. Existe estudo e dedicação para isso, especialmente no autoestudo.
Ser o Pai do Agora é ser um pai emocionalmente preparado para ir em direção ao filho, se aproximar dos seus interesses, dando-se conta dos que foram atendidos, dos que não foram e o real motivo do sim ou do não, pois dialoga e decide a partir de Significados profundos, baseado em seus Valores Familiares.
Ele também constrói uma perspectiva positiva, reconhece os membros da família e reconhece os aspectos positivos dela: O que minha família faz por mim? O que meu filho me entrega? De que forma eu posso demonstrar gratidão pela família que eu tenho?
Conviver também é saber reconhecer!
Reconhecimento também é necessário, muito mais do que elogios.
O pai desse século sabe disso e é assim que ele busca construir a sua paternidade.
Desejo que você seja esse pai que cria o seu próprio mapa, o mapa do seu filho, filha, da família que construiu, que compartilha afeto, reconhecimento e admiração, fazendo assim, um depósito na conta emocional dos seus filhos e não somente um depósito na conta corrente bancária “por obrigação” ou “ego” para que realize sonhos materiais ou faça uma faculdade, ou que tenha um carro aos 18 anos, .
Isso também é importante, não vamos excluir uma área da vida como se houvesse uma melhor ou mais importante que outra. Vamos integrar. O dinheiro para a faculdade é importante e essencialmente básico, que um pai contribua, porém, apenas isso não faz de você um pai do Agora, do futuro, do Século XXI.
Assim como as Mães que se curam, curam seus filhos, o mesmo se estende a você, que é PAI.
Vamos continuar com este diálogo?
Deixe suas reflexões.
Comments